Setembro 27, 2024

Minuto da consciência crítica: Drops de teoria e consciência críticas para degustação por partes Destaque

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O sujeito do desempenho, que se julga livre, é na realidade um servo: é um servo absoluto, na medida em que, sem um senhor, explora voluntariamente a si mesmo. Nenhum senhor o obriga a trabalhar. O sujeito absolutiza a vida nua e trabalha. (pág. 10)

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O regime neoliberal transforma exploração imposta por outros em uma autoexploração que atinge todas as classes.

Essa autoexploração sem classes é completamente estranha a Marx e torna a revolução social impossível, já que esta é baseada na distinção entre exploradores e explorados.

E, por causa do isolamento do sujeito de desempenho explorador de si mesmo, não se forma um Nós político capaz de um agir comum.

Quem fracassa na sociedade neoliberal de desempenho, em vez de questionar a sociedade ou o sistema, considera a si mesmo como responsável e se envergonha por isso.

Aí está a inteligência peculiar do regime neoliberal: não permite que emerja qualquer resistência ao sistema.

No regime de exploração imposta por outros, ao contrário, é possível que os explorados se solidarizem e juntos se ergam contra o explorador.

Essa é a lógica que fundamenta a ideia marxista da “ditadura do proletariado”, que pressupõe, porém, relações repressivas de dominação.

Já no regime neoliberal de autoexploração, a agressão é dirigida contra nós mesmos. Ela não transforma os explorados em revolucionários, mas sim em depressivos. (pág. 16)

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A liberdade e a comunicação ilimitadas se transformaram em monitoramento e controle total. Cada vez mais as mídias sociais se assemelham a pan-ópticos digitais que observam e exploram impiedosamente o social.

Mal nos livramos do pan-óptico disciplinar e já encontramos um novo e ainda mais eficiente.

Com fins disciplinares, os internos do pan-óptico ben- thaminiano eram isolados uns dos outros, de modo que não conversassem.

Os internos do pan-óptico digital, por sua vez, comunicam-se intensivamente e expõem-se por vontade própria. Participam assim, ativamente, da construção do pan-óptico digital.

A sociedade digital de controle faz uso intensivo da liberdade. Ela só é possível graças à autorrevelação e à autoexposição voluntárias.

O Grande Irmão digital repassa, por assim dizer, seu trabalho aos internos.

Assim, a entrega dos dados não acontece por coação, mas a partir de uma necessidade interna. Aí reside a eficiência do pan-óptico digital. (pág. 19)

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O que ocorre hoje é uma vigilância sem vigilância. A comunicação é aplainada como que por moderadores invisíveis e rebaixada à condição de consenso.

Essa vigilância primária e intrínseca é muito mais problemática do que a vigilância secundária e extrínseca dos serviços secretos.

O neoliberalismo transforma o cidadão em consumidor. A liberdade do cidadão cede diante da passividade do consumidor.

Atualmente, o eleitor enquanto consumidor não tem nenhum interesse real pela política, pela formação ativa da comunidade.

Não está disposto a um comum agir político, tampouco é capacitado para tal.

O eleitor apenas reage de forma passiva à política, criticando, reclamando, exatamente como faz o consumidor diante de um produto ou de um serviço de que não gosta. (pág. 21)

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O poder tem formas de manifestação bem diferentes.

A mais direta e imediata se expressa como negação da liberdade. Ela habilita os poderosos a impor sua vontade, por meio da violência contra a vontade daqueles submetidos ao poder.

Contudo, o poder não se limita a quebrar a resistência e compelir à obediência: não tem que necessariamente assumir a forma de uma coerção.

O poder que depende da violência não representa o poder máximo: o simples fato de que uma vontade contrária surja e se oponha àquele que o detém é a prova da fraqueza do seu poder.

O poder está precisamente onde não é posto em evidência. Quanto maior é o poder, mais silenciosamente atua. Ele se dá sem ter que apontar ruidosamente para si mesmo.

O poder pode se expressar como violência ou repressão, mas não se baseia nisso.

Não é necessariamente excludente, proibitivo ou censor. E não se opõe à liberdade: pode até mesmo usá-la.

Apenas em sua forma negativa é que o poder se manifesta como violência negadora que verga as vontades e nega a liberdade.

Hoje, o poder assume cada vez mais uma forma permissiva. Em sua afabilidade, permissividade, ou melhor, em sua afabilidade, o poder põe de lado sua negatividade e se passa por liberdade.

O poder disciplinar ainda está completamente dominado pela negatividade. Ele se articula de forma inibitória, não permissiva.

Devido à sua negatividade, não pode descrever o regime neoliberal que reluz na positividade.

A técnica de poder do regime neoliberal assume uma forma sutil, flexível e inteligente, escapando a qualquer visibilidade.

O sujeito submisso não é nunca consciente de sua submissão. O contexto de dominação permanece inacessível a ele. É assim que ele se sente em liberdade.

Ineficiente é todo poder disciplinar que, com grande esforço, aperta violentamente as pessoas com um espartilho de ordens e proibições.

Muito mais eficiente é a técnica de poder que faz com que as pessoas se submetam ao contexto de dominação por si mesmas.

Essa técnica busca ativar, motivar e otimizar, não obstruir ou oprimir.

A particularidade da sua eficiência está no fato de que não age através da proibição e da suspensão, mas através do agrado e da satisfação.

Em vez de tornar as pessoas obedientes, tenta deixá-las dependentes. (págs. 25/26)

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Livro: PSICOPOLÍTICA - O NEOLIBERALISMO E AS NOVAS TÉCNICAS DE PODER.

Autor: Byung - Chul Han.

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Última modificação em Segunda, 27 Mai 2024 16:11
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