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?⚡Edição: 04/2025 - publicada em 17 de fevereiro (segunda-feira).
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REALISMO CAPITALISTA E A DISPUTA PELO ESPÓLIO DO PRESENTE
Há 15 anos, Mark Fisher decretava o "cancelamento do futuro" na sua breve, porém arguta, análise do capitalismo contemporâneo vista em seu livro: Realismo capitalista.
A presciência e a justeza desse livro podem ser aferidas pelo fato de que sua narrativa talvez soe ainda mais aguda hoje do que ontem.
Calibrar o diagnóstico de Fisher hoje significaria apreender que o futuro cancelado vai se confundindo com um tempo do fim cada vez mais corrosivo e acelerado.
Uma espécie de retomada negativa da História vai então descortinando a sua dinâmica, exibindo o que poderíamos chamar aqui de sua própria economia política.
A vitória completa dos mercados como fundamento de todos os planos da vida não apenas se manteve, como ainda recrudesceu. Narra-se, assim, um quadro que parece tão ou mais próprio de hoje do que de 2009.
O "presente contínuo" de Fisher só pode virar o acúmulo de diferentes crises: econômica, política, social, ambiental e, mais recentemente, militar-geopolítica.
É por isso que, com o privilégio de 15 anos de distância em que persistimos assistindo ao cancelamento do futuro, podemos afirmar que o achatamento do tempo histórico também já tem sua própria "história",
Esse enfoque, cremos, ajuda a iluminar muitas das tendências ideológicas contemporâneas. O retorno com força da religião como política expressaria a aproximação da pregação apocalíptica espiritual com a própria realidade material que semeia as tendências da história do fim.
A manipulação do medo, do ódio e da indiferença seria o sintoma imediato daquilo que resta do que conhecemos como política.
E se o realismo capitalista teorizado por Fisher absolutiza a máxima de que "não há alternativa", ganha peso a ideia dos velhos frankfurtianos de que as pessoas tendem a incorporar como horizonte de vida a "reprodução desejante do existente".
Se o que sobra é a dessocialização e a sensação de guerra de todos contra todos, que sejam então liberadas com gosto as armas para que cada um possa empreender melhor a sua batalha.
Ou ainda, como bem mostrou Bruno Latour, o negacionismo ambiental não seria derivado de uma ignorância quanto ao caminho muito real que o mundo toma direto para o colapso.
Ao contrário, justo porque as pessoas estão cientes desse caminho (as elites sobretudo, mas não apenas elas), trata-se de pisar o acelerador e fruir de forma hedonista o gozo em meio ao colapso inevitável.
Fisher, morto em 2017, não pôde ver que a lógica da guerra civil também se prolongaria hoje no risco de uma nova guerra global em função da nova geopolítica do mundo.
Em todo caso, também aqui a sua noção de cancelamento do futuro é perfeitamente cabível como pano de fundo.
Na superfície dos fatos, estaríamos passando do "não há alternativa" da globalização neoliberal para a suposta "alternativa” da desglobalização.
Ora, também aqui o futuro é cancelado na medida em que o que está em jogo não é mais como na antiga guerra fria das promessas de progresso do capitalismo liberal do socialismo real ou de projetos nacionais de desenvolvimento de países periféricos.
O que está em jogo é muito mais uma disputa encarniçada pelo espólio do presente, uma corrida pelos espaços que ainda
restam que não aponta nada além de um tensionamento cada vez mais perigoso e destrutivo.
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● Fonte ●
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Autor: Daniel Feldmann.