Dezembro 04, 2024

Minuto da consciência crítica: A PANACEIA DIVIDIRÁ ESFORÇOS E ENFRAQUECERÁ A LUTA COLETIVA Destaque

Apesar de midiaticamente ocultado, as crises periódicas de superprodução são fatos históricos de sentimento corrente generalizado. Nesses períodos, os preconceitos sociais instrumentais à dominação do sistema intensificam-se. Elitismo, machismo, racismo, capacitismo, sexismo, etarismo, sectarismo, homofobia, misoginia, transfobia, gordofobia, etc. tornam-se mais recorrentes e acentuados. Todos muito bem aconchegados no seio do ideário de extrema direita, mas nunca admitidos como existentes ou praticados de fato em prejuízo de suas vítimas, sendo, por vezes, tratados como “mi-mi-mi”.

 

Quando a conjugação de múltiplas crises: econômica, política, social, ambiental e climática, torna evidentes as mazelas produzidas pelo regular funcionamento do sistema, o sinal de alerta é acionado nas “altas rodas” e é chegado o momento de abandonar o falacioso lema liberal do “estamos todos no mesmo barco” e enfrentarmos as adversidades juntos. Agora, não. Diante da necessidade de retomar, a todo custo, ganhos perdidos, torna-se inadiável chamar o fascismo para assumir a condução social e, então, o discurso muda, o lema se altera significativamente e passa ao princípio excludente do bote “salva-vidas”, onde apenas alguns poderão sobreviver às catástrofes.

 

Na nossa natural condição humanamente compartilhada de ignorância continuada, consideramos, reunindo os conhecimentos adquiridos até aqui, que as árduas condições concretas de vida levaram, desde a pré-história, a reunião de esforços individuais que transformados em ação coletiva, possibilitaram a sobrevivência e chegada da humanidade até seu atual estágio de desenvolvimento. 

 

Contudo, a partir do instante em que um espertalhão resolveu cercar um palmo de terra e se intitular “dono do pedaço” e não houve quem contesta e se rebelasse, iniciou-se a fase paulatina de declínio do senso de solidariedade e colaboração coletiva e o que era comunitário tornou-se propriedade de um ínfimo grupelho.

 

Hoje, transcorrida longa jornada existencial e histórica, quando passamos por catástrofes evitáveis produzidas pelo normal e regular funcionamento sistêmico da modernidade capitalista, como por exemplo nos casos paradigmáticos dos fascismos (italiano, espanhol, português, etc.) e do nazismo (alemão), parece ficar evidente que as lições do passado recente de retumbante fracasso do método minoritário excludente de condução social não foram apreendidas e aprendidas que dirá incorporadas como valores inegociáveis pelo conjunto da sociedade. 

 

Essa é a conclusão que se chega ao se observar o avanço cada dia maior do

neoliberalismo, associado, agora, aos protofascistas, por necessidade inadiável de eficácia do controle repressivo como resposta preventiva às consequências danosas do atual conjunto de crises.

 

As burguesias precisam, no entanto, para atingir seus objetivos imediatos de retomada econômica a seu favor, apresentar seus interesses minoritários como de interesse geral para a maioria dos que sofrerão com a implementação do aumento da exploração capitalista. Nesse aspecto, é de fundamental importância alterar profundamente as subjetividades das massas governadas pelo sistema, de maneira a incorporarem psiquicamente como próprias, categorias alheias e neoliberais de dominação ideológica, como por exemplo a meritocracia e o empreendedorismo. Considerando-as como plenamente adequadas à solução dos problemas sociais, ainda que, no seu fundamento principiológico, esteja o egoísmo do “cada um por si” e do “salve-se quem puder”.

 

Infelizmente, entretanto, nós trabalhadores, servidores públicos federais do PJU, estamos a assistir o ingresso, no conjunto da categoria, de um novo estilo do elitismo, o exclusivismo, através da proposta de criação de um sindicato nacional de oficiais de justiça avaliadores federais por expansão da base territorial de um local já existente. 

 

A história demonstra que, geralmente, interesses discriminatórios, elitistas, excludentes, divisionistas, separatistas, patriarcais, machistas, misóginos, racistas, homofóbicos, transfobicos, sexistas, capacitistas, etaristas, orientalistas neocoloniais e xenofóbicos estão ligados aos ideais de supremacia, opressão e dominação de classe defendidos pela extrema direita. Hoje, muito bem representados por versões políticas atualizadas de populistas autoritários, mas, também, por figuras escandalosas, excêntricas ou coach empresariais, todas a serviço do renovado movimento do protofascismo global.

 

A questão da criação de um sindicato nacional exclusivo de oficiais de justiça é grave e o fato deveria ser analisado da forma mais aprofundada possível e não superficialmente como uma panaceia instantaneamente solucionadora das falhas organizativas ou representativas dos sindicatos gerais ou da federação. 

 

Separada, posta no isolamento uma pequena parcela da categoria, ela estará muito mais vulnerável aos ataques aos seus direitos específicos, ficando sem as estruturas de apoio logístico nos respectivos Estados para casos de assédios moral e institucional, perdendo, inclusive, sua representação jurídica nas ações em trâmite na fase de execução ou impetradas, futuramente, por seu sindicato de origem, além do enfraquecimento do todo decorrente da saída de uma parte do conjunto.

 

Existem, no PJU, quatro principais cargos de servidores, imaginemos, agora, que a partir daqui, cada um deles resolve se separar e formar o seu próprio sindicato nacional: analistas, técnicos, oficiais e auxiliares. Será que tamanho nível de fracionamento trará resultados positivos para reunião das forças necessárias ao enfrentamento das políticas destrutivas dos serviços públicos empreendidas pelos contínuos ataques neoliberais? Nossa característica geral de baixa capacidade combativa não ficará ainda mais diminuída? 

 

E como ficará a disputa orçamentária com os magistrados quando o princípio aplicado, na prática, será cada cargo por si mesmo? Observem que, na disputa orçamentária, a qual muito se intensificou nos últimos anos em nosso prejuízo, há, por uma questão de hierarquia política, a divisão entre a maioria, nós servidores, de um lado, e a cúpula minoritária de magistrados de outro. Como ficaria se, por acaso, estivéssemos todos divididos em sindicatos distintos? Será que, posta em prática a regra excludente do individualismo, não estaremos a cair na armadilha do enfraquecimento de classe, típica do ideário de extrema direita de cada um por si?

 

O isolacionismo não nos parece uma ideia coletivamente frutífera, em especial no momento atual de luta pelo encaminhamento e aprovação, posterior, no Congresso Nacional, de um plano de cargos, carreira e salários para toda categoria, agravada pela circunstância da intensificação das recentes tentativas dos “tubarões dos mercados” de avanço sobre os serviços públicos através de privatizações e terceirizações para o acesso ao potencial lucrativo de oferecimento privado de serviços públicos que deveriam permanecer estatais e, ainda, ao incentivo ao incremento e implantação da reforma administrativa dado pelo recente beneplácito do STF através do julgamento de extinção da obrigatoriedade de contratação pelo regime jurídico único em todos as esferas de governo.

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